espaço que alicia o pensamento, particularmente o perverso
16
Jan 05
publicado por rogerio, às 04:05link do post
Entre copos de bebidas brancas e gajas boas todos se pareciam divertir, era um ambiente despreocupado e vago, propício a exibições de sexo gratuitas ou a tristes figuras de tipos demasiado alcoolizados. Ao canto da ampla pista e abatidos pelos shots, muitos assistiam agora com uma visão desfocada á efémera felicidade dos que ainda se aguentavam de pé e continuavam a dançar ferozmente. O ecstasy era provavelmente o mote para uma dança tão descoordenada e terrivelmente decepcionante, mas era o álcool que mais contribuía. A música era a única que permanecia constante, tudo o resto diminuía com o tempo. O dj pouco parecia se importar com o cenário que fazia dele rei e senhor da noite. A sua música continuava repetitiva e grosseira, era o techno no seu melhor, aquela era a batida que todos gostavam de ouvir, e, mesmo quando não o era, o estado psicológico dos que a ouviam já não queria outra coisa, os fortes batuques e o ritmo louco ao menos mantinham vivos os corpos e acordado o espírito, e era isso mesmo que se pretendia, pelo menos até o álcool tomar conta dos dois...
Seria nessa mesma noite que tudo haveria de começar. Ao meio da pista ela dançava como ninguém, os seus cabelos louros reluziam a partir da artificialidade daquelas luzes sinistras e o seu corpo acompanhava os seus movimentos sensuais num ritual quase divino e ao mesmo tempo tão sedutor como a pior das tentações. Estava encontrada a mulher mais bela da pista. Para além de loura, tinha olhos azuis e era dona de um corpo escultural. Por alguns segundos pensei se não estaria perante uma deusa, um anjo caído directamente do céu, ou algo realmente transcendente...Olhei-a mais uma vez e vi que era simplesmente uma mulher perfeita e abençoada como nunca vira nenhuma. Fiquei perfeitamente confundido, o álcool começava a me dar as voltas á cabeça e aquela mulher provocava em mim efeitos igualmente alucinantes. Durante algum tempo fixei os olhos no copo de whisky que segurava entre as mãos gélidas e repentinamente obriguei-o a descer pelas goelas já secas. Nem percebi muito bem porque o fizera tão violentamente, só sei que atingira agora um ponto de alcoolização crítico, um estado quase inconsciente e um patamar que para além de me dar as voltas á cabeça, já me começava a dar também as voltas ao estômago...
Já era manhã. Tudo acabara. Tudo excepto os efeitos daquele líquido maldito que haviam se tornado em ressaca e os efeitos daquela mulher que eram agora recordações simplistas de uma noite efémera e incompleta. Algo ficara por dizer e por fazer e tudo se perdera entre as paredes de uma pista de dança…Estava mais uma vez arrependido por aquilo que não fizera…Confiei ao maldito copo de whisky a nobre tarefa de me conduzir até ela, e ele o que fez foi me levar até ao horrendo wc daquele incrível sub mundo...


Parabéns pelo blog! Gostei muito deste artigo e da simbologia. Afinal, o uísque acabou por derrotar o seu vago propósito... Boa!
Savonarola a 16 de Janeiro de 2005 às 15:23

De
( )Anónimo- este blog não permite a publicação de comentários anónimos.
(moderado)
Ainda não tem um Blog no SAPO? Crie já um. É grátis.

Comentário

Máximo de 4300 caracteres



Copiar caracteres

 



mais sobre mim
Janeiro 2005
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14

21
22

23
25
26
27
28
29

30
31


arquivos
2012

2011

2010

2009

2008

2007

2006

2005

pesquisar neste blog
 
subscrever feeds
blogs SAPO